Violência política contra mulheres avança com redes sociais e acesso à internet
Embora não seja uma situação recente, a violência política ganhou novos contornos com o crescimento das redes sociais e o maior acesso à internet, o que possibilita também ataques virtuais.
A prática, que consiste em restringir, limitar ou impedir a participação política, pode ser direcionada a qualquer pessoa ou grupo social, mas tem afetado as mulheres com mais ênfase e vem sendo mais um dos desafios para o aumento da presença feminina na política.
Neste ano, teremos a primeira eleição após a sanção da lei de combate à violência política contra as mulheres. Entre as ações previstas no texto, estão a criminalização de abusos e a determinação de que o enfrentamento a esse tipo de violência faça parte dos estatutos partidários.
Mas o que é a violência política e por que atinge mais as mulheres?
O homicídio por motivos políticos é um caso de violência direta e mais explícita.
Contudo a violência política também se manifesta de maneira difusa, na forma de silenciamentos, subfinanciamento nas campanhas eleitorais, boicote na participação partidária ou em comissões parlamentares, deslegitimação de opiniões, assédio moral e sexual e ataques preconceituosos na internet.
Embora o objetivo da violência política no abstrato seja impedir a participação de determinado indivíduo ou grupo, este tipo de prática é influenciada pelo machismo existente nos diversos aspectos da sociedade.
Exercer menos cargos de poder do que homens e conseguir menor participação política são alguns dos fatores que acabam deixando as mulheres mais expostas a esse tipo de violência.
“Mulheres e homens que sofrem violência política não passam por este fenômeno sem que as hierarquias de gênero sejam consideradas”, afirma Danusa Marques, professora e diretora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.
“É importante ressaltar que as camadas de desvantagens sociais afetam de forma combinada a chance de uma pessoa ou grupo ser vítima de violência política. Por isso, falamos de violência política de gênero, de violência política racial, de violência política LGBTIfóbica”, diz.
Segundo ela, o objetivo da violência política contra as mulheres é exatamente impedir a participação feminina. “Por isso, é operada para minar todos os aspectos que possam contribuir para o engajamento político das mulheres.”
Isso ocorre para que elas “sejam obrigadas a desistir de ocupar posições de poder”.
Violência em números
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Justiça de Saia, entre outubro e novembro de 2021, mostra que mais da metade das entrevistadas (51%) —eleitoras, candidatas ou mulheres no exercício do mandato— já foi vítima de comentários ou manifestações preconceituosas ou discriminatórias. O levantamento compilou 1.194 respostas para o mapeamento.
Um outro levantamento, este realizado pelo Instituto Marielle Franco, divulgado no fim de 2020, identificou que 8 em cada 10 mulheres negras que concorreram às eleições daquele ano sofreram violência virtual, como o recebimento de mensagens machistas e racistas e invasões durante lives das quais participaram. Foram ouvidas 142 mulheres de 16 partidos e de 93 municípios de todo o país.
“As redes sociais não inauguram o problema da violência política, mas tudo o que é terrível tem se tornado pior. Elas são catalisadoras de violência política por causa da arquitetura atual da internet”, avalia Danusa Marques.
Segundo ela, a maneira como foram desenvolvidas as redes sociais promoveu formas muito intensas de propagação de discursos de ódio, ataques e ameaças baseadas nas hierarquias de gênero.
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